O conto de Martinália

Uma terça feira como outra qualquer, acordo tarde (por volta das 9h) e me sento na mesa para tomar meu café da manhã. A mesa está uma bagunça. Pratos do jantar do dia anterior, de lanches de tarde da noite não contabilizados amontoados com, claro, toda a sujeira deixada a mesa pelas pessoas que tomaram seus cafés antes de mim. Não sei como eles esperam que Martinália dê conta sozinha de tanta sujeira. Eles poderiam no mínimo levar os pratos para a pia, ou só não deixarem restos de comida acumulando insetos já ajudariam bastante.
Imagino que eles esperassem ela aparecer assim que seus pratos sujos fossem postos para o lado na mesa.
Pobre Martinália. É uma humana, afinal. Quem daria conta de tanta bagunça e demanda?
É uma mulher muito forte sim.
Preparo alguma coisa para comer e, assim, começar meu dia, quando vejo mais um “presente” deixando em um lugar bem visível até da porta da sala, como que um troféu de tamanha bagunça. 
Um liquidificador usado, ainda ligado a tomada. O copo do liquidificador completamente sujo do que quer que tenha sido preparado ali. “Gente”, penso. “Poderiam dar pelo menos uma força”. Todo mundo sabe que não importa o quão solúvel seja o preparo, se não passar pelo menos uma aguinha ali, quando for lavar dá um trabalho danado!
Bem, talvez devessem dar um aumento a Martinália. A coitada já faz o que pode e ninguém nem reconhece. Bom, eu vou levar minha louça para pia e passar pelo menos água para nada endurecer e ficar difícil de ser lavado.
Vou para a pia e vejo que meu pai acabou de chegar com as compras, enquanto deixo as coisas lá e aproveito para beber um pouco de água observo a cena. Ele chega com compras, tira tudo das sacolas de supermercados e vai jogando elas pelo fogão, pelo balcão da cozinha e pela mesa, o lugar dependendo exclusivamente da proximidade com o local onde ele decide que vai deixar as coisas, já que ele espera que Martinália dê seus pulos para guardar tudo.
Então ele pega somente o que vai utilizar e segue para a pia.
Lá ele lava as mãos e as verduras. As verduras vão para panela, que ele usou na noite anterior e não lavou, então tem que lavar agora e isso o deixa irritadíssimo, mesmo que não faça sentido algum. Ele esperava que de algum jeito a panela que ele sujou e deixou pelo balcão estivesse magicamente limpa, enxuta e guardada no armário. Já desisti de argumentar sobre isso, então sigo para a mesa.
Lá noto, com tristeza, como a cena segue. Ele lava as mãos novamente, mesmo tendo um pano de prato na porta do armário, ele decide que a melhor maneira de enxugar as mãos e sacundindo ela pelo caminho e molhando todo o chão. Para completar ele faz isso andando, então ele molha o chão e depois saí pisando em cima com o tênis que usa cotidianamente.
Ah, sim. Ele lavou as mãos e foi até a mesa onde deixou parte das compras, então pega uma manga e um mamão, lava e corta um bom pedaço de cada um deles para comer. Do mamão ele tira a casca e deixa na pia mesmo, juntos com aqueles carocinhos que sempre tem dentro do mamão, e brada aos quatro ventos como a casa é bagunçada.
Respiro fundo. “É impossível que ele não perceba”
Vou para o meu quarto, pego meus livros, arrumo minha estante e começo a organizar a roupa suja para a máquina de lavar.
Enquanto a barulhenta máquina trabalha, prendo meu cabelo no topo da cabeça e faço um coque, para que o suor não acabe ressecando nem maltrando ele, visto uma roupa dessas mais acabadas e velhinhas, que eu não usaria mais para passear, calço minhas chinelas de Martinália e sigo para o dia de trabalho, que amanhece antes que eu abra os olhos.

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