A descoberta da Melancia

Esse foi um tipo de experiência interessante que (ainda bem) pude perceber que tive. É bem simples, na verdade. Eu comia melancia, mas sem gostar, comia porque era uma fruta então em tese me faria bem, mas nunca gostei do sabor nem da falta de praticidade da melancia no que se diz a tirar todas as inúmeras sementes antes de comer ou ter que ficar cuspindo elas enquanto está comendo. Para uma fã de Magali (Turma da Mônica) pegava meio mal, não é?
Aconteceu a algum tempo, eu estava no restaurante universitário e a opção de fruta do dia era a melancia. Eu sabia que não gostava mas, de uns tempos até aquele dia, me vi com vontade de comer melancia. “Eu não gosto, provavelmente é só um daqueles impulsos que eu vou me arrepender depois se pegar essa melancia agora”. Bom, acontece que não era.
Depois de algumas semanas ignorando a vontade de comer melancia, decidi que valia a pena comer logo só para por um fim a esse querer e decididamente reafirmar que não gostava de melancia. Não ia me matar afinal.
O interessante é que eu gostei. Amei na verdade (e ainda amo uma boa melancia).
Um texto pequeno sobre algo desinteressante? Pode ser, mas o que vem a seguir é a verdadeira lição.
Eu passei anos sem gostar de melancia, primeiro me enganando, achando que gostava porque fazia bem. Depois percebi que não gostava do sabor, que parecia só uma água com algum sabor muito leve por cima e mais sólida. E depois de algum tempo, por fim, decidi experimentar de novo. Dar uma nova chance e descobri que amava melancia.
As vezes, quase sempre, você muda mais que as coisas ao redor. O interessante é abrir os olhos para poder receber isso de braços abertos e se descobrir mais como pessoa única que é. A melancia, até onde eu sei, é a mesma que era a alguns anos atrás. Tem as mesmas sementes, pelo menos as que eu compro, o mesmo formato e textura. O que aconteceu foi que eu gostei do sabor. Pode ser o mesmo, eu não sei, mas agora parece infinitamente mais gostoso do que antes. Esse pequeno fato me orgulhou demais simplesmente por eu me dar uma chance, ou no caso, dar uma chance a melancia.
Eu poderia ter olhado já com cara feia para fruta com base em experiências passadas, eu poderia apenas ignorar o fato de que ela estava sendo servida naquele dia e ido pegar um doce no lugar, mas ao invés disso eu resolvi dar uma chance aquilo que estava a semanas na minha cabeça.
Eu não fechei as portas só por uma ideia do passado. Isso é apaixonante para mim.
Imagino quantas coisas não seriam diferentes no mundo de hoje se mais gente se desse essa chance e com coisas mais sérias. Ainda em 2017 muita gente bate o pé por coisas de séculos passados e é escancarado o tanto enorme de gente que sofre com isso. Não é porque disseram para as avós das minhas avós que mulher tem que ter cabelo grande que eu não posso cortar o cabelo do tamanho que eu quero, por exemplo. A gente não pode, nem deve, viver do passado. Se fosse para ser assim, nunca teríamos esperança no futuro e nas coisas boas que ele pode trazer.
Não estou dizendo aqui para ignorar tudo o que aconteceu e só pensar no amanhã, estou falando de aproveitar as experiências de forma sã e analisar dentro de si o que se pode melhorar e a quê não vai fugir da sua personalidade se você der outra chance.
Aceitar mudanças não tem a ver com ser alguém “sem personalidade”. É um assunto muito complexo e que exige uma análise muito, muito profunda de si, mas estou falando de coisas que não irão fugir a sua essência e que (PERCEBA) você saiba o que é realmente sua essência e não apenas uma ideia teimosa na sua cabeça. Uma ideia fixa foi descrita como uma coisa horrível por Machado de Assis. Só não perca experiências novas, não deixe de gostar de uma música que realmente gosta só porque a 4 anos atrás não suportava ela.
Assista a filmes novos, séries novas, documentários, leia novos livros e aproveite tudo.
Mas não deixe de estar sempre trabalhando em quem você é. Reafirmando da forma mais humana possível suas características e singularidades. Já pensou o quão melhor você seria se deixasse de lado só um pouquinho da rigidez com coisas simples?
Aproveite a vida, redescubra sua história. Tem um trecho do livro “Um dia” de David Nicholls que fala sobre como não é prático pensar em aproveitar cada dia como se fosse o último.É realmente difícil e não estou dizendo para fazer exatamente isso, mas estou dizendo que aproveite as oportunidades e experiências enquanto pode tê-las.
Não precisa abandonar tudo e trocar de nome (a lá Alexander Supertramp), mas se uma oportunidade de uma experiência nova sobre você surgir na sua frente, não é loucura deixar ela passar?

Para não ficar muito cansativo, acho que se resume o texto todo se resume a isso. Podem ser coisas pequenas ou coisas grandes, mas você sempre pode ter tido alguma mudança e tem nas mãos a chance de descobrir ela. Aproveite.

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